terça-feira, 5 de abril de 2016

Limitações do Ser Humano




As limitações intelectuais do homem diante do mistério do universo e de seu próprio mistério metafísico são totais e simples de explicar, comparando-se-as com a limitação dos outros animais, que o homem aceita e compreende (porque seu orgulho não está em jogo). 

Um cão, um gato, até mesmo uma formiga ou uma pulga podem apreender determinados fenômenos, coordená-los, imitá-los e repeti-los. Mas você não ensina uma pulga a nadar, assim como você jamais fará com que um cão leia um jornal, embora possa facilmente ensinar o cão a ir buscar o jornal na porta. Da mesma forma o homem, capaz de entender inúmeros problemas (isto é, de ir buscar o seu jornal metafísico), jamais conseguirá saber de onde veio, para onde vai e o que faz aqui. E, se você mandar que imagine o infinito, ele não consegue porque sempre acaba imaginando uma abóboda imensa (a do céu) que, naturalmente, tem um outro lado. 

Mas se, ao contrário, você quiser que ele imagine o finito, ele também não consegue porque acaba limitando toda sua imaginação com uma abóboda, aliás a mesma. E porque tem o cérebro limitado como o de qualquer outro animal, o homem se apavora diante da morte, sem saber que esta é apenas uma promoção intelectual saudada com uma gargalhada. 

Ao morrer, o homem, subitamente untado com uma inteligência superior (matéria pura), bate na testa (inexistente), percebe que o pesadelo era aqui e não lá, que, na verdade, agora é que ele está vivo, e exclama às gargalhadas; "Mas, era isso?" (Conversa com Alçada Baptista, Romancista Português.1968)





Fonte: Do livro, “O livro vermelho dos pensamentos”, de Millôr Fernandes

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