quarta-feira, 30 de março de 2016

Considerações sobre a Amizade




Um dia, um discípulo perguntou a Budha:
- Mestre, o que é a Amizade?
Budha sorriu docemente e respondeu:
- Nada mais do que uma bengala forte e segura.

O discípulo, depois de muitas semanas de meditação, voltou à presença do Mestre e indagou:
- Como se pode comparar a Amizade com uma simples bengala? Com um pedaço de pau?

Budha levou o discípulo até a margem de um rio e mostrou-lhe a neblina baixa que impedia de enxergar o outro lado e falou:
- Imagine que você tem de atravessar este rio e que a neblina não lhe permite ver além de uns poucos passos à sua frente. A trilha de pedras, que é o único caminho para o outro lado, é formada por rochas lisas, redondas e parcialmente cobertas pela água. É uma trilha muito perigosa... Uma queda, um escorregão, e não haverá como se salvar. O que é que você faz?

Novamente o discípulo se recolheu para meditar sobre as palavras de seu Mestre e, depois de outras tantas semanas, voltou para dizer:
-Eu faria uso de uma bengala, meu Mestre. Seria esse o sentido da Amizade?

E Budha respondeu:
- Sim. É esse o sentido da Amizade. Uma bengala, um apoio que será o seu auxílio para atravessar o Rio da Vida sem ter receio de escorregar em cada uma de suas etapas. A bengala é como a Amizade, firme, segura, eficiente, capaz de sustentar o seu peso num momento difícil, numa passagem que somente as suas pernas não seriam capazes de aguentar, mas com o apoio da bengala, você cria novas forças, você adquire uma nova energia e se torna capaz de vencer o obstáculo. E é por isso que a Amizade, como a bengala, tem de ser firme e forte. Às vezes, ela precisa aguentar todo o seu peso. E é também pelo mesmo motivo que a Amizade, como a bengala, deverá ser bem cuidada. Para que nunca se deteriore, para que não apodreça e se torne, de repente, frágil e quebradiça. Uma amizade é algo vivo, algo que necessita de cuidados para não morrer.

O discípulo recolheu-se novamente por mais algumas semanas. Finalmente, ao tornar a aparecer diante do Mestre, falou:
- Mestre, sendo a Amizade o ponto de apoio dos homens, quando todos se encostarem uns aos outros, todos se apoiarem mutuamente, então, nesse dia, não haverá mais nenhum que venha a cair nas águas do Rio da Vida... Não é assim?

Budha não respondeu. Limitou-se a olhar para a frente, os olhos perdidos no infinito de suas meditações.

Talvez estivesse lamentando o fato de saber que isso jamais viria a acontecer.






Fonte: http://www.ryoki.com.br/

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